Obrigatório em caminhões, uso de ARLA avança em máquinas agrícolas

Obrigatório em caminhões a diesel desde 2012, o ARLA 32, sigla para Agente Redutor Líquido Automotivo, tem ganhado espaço no campo. A substância tem sido aplicada em máquinas e implementos agrícolas mais modernos e de emissões reduzidas de gases do efeito estufa. À base de nitrogênio, o ARLA é capaz de reduzir em até 90% a emissão de compostos nitrogenados, sendo uma das principais tecnologias disponíveis hoje na indústria para cumprir as exigências legais de eficiência dos motores de combustão.

“O ARLA nada mais é do que uma solução de ureia, de aproximadamente 32,5% em massa de ureia, com a água. Essa solução fica armazenada em um tanque próximo ao tanque de combustível de veículos pesados movidos a diesel e é injetada e misturada no sistema de escapamento do veículo. Lá, reage com os compostos nitrogenados e gera vapor de água e o gás nitrogênio – que são inofensivos para a saúde humana”, explica o professor de engenharia química da FEI, Ricardo Belchior.

ARLA 32 ganha espaço entre máquinas agrícolas

Ainda pouco comum no campo, ele destaca que a tecnologia deve ganhar espaço entre máquinas agrícolas conforme avancem as fases do PROCONVE (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), lançado na década de 80 e que, este ano, chega a sua sétima etapa. “Se imaginarmos que em 1988 a emissão de monóxido de carbono por veículo era de 24 gramas por quilômetro e hoje estamos com 1 grama por quilômetro, a redução foi grande. E se o PROCONVE está sendo estendido para máquinas agrícolas, essa questão é imediata”, destaca o professor.

O agricultor Cinar Costa Beber, de Nova Mutum (MT), usou pela primeira vez uma máquina com a tecnologia na safra 2020/2021. Segundo ele, apesar de ser um insumo a mais na produção, a aquisição da substância não tem sido um problema. “É um custo a mais que você tem no equipamento, porém é um equipamento com um consumo de combustível menor, quase metade comparado as demais tratores da fazenda, então mesmo com o ARLA sai mais em conta do que outros tratores que não têm esse sistema”, observa o produtor. Na região, a substância pode ser encontrada em postos de combustível a preços que variam de R$ 3 a R$ 4 o litro.

Com um consumo médio de 5% em relação ao consumo de diesel – ou seja, a cada 100 litros de diesel são necessários 5 de ARLA – a tecnologia ainda enfrenta resistência por parte dos produtores. “Você tem propaganda dos dois lados. Enquanto algumas empresas destacam que usam motores com ARLA, outras usam como propaganda o fato de não precisar usar”, explica o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSMIA/Abimaq), Pedro Estevão. Segundo ele, a ausência do ARLA é exposta pelos fabricantes como um insumo a menos a ser usado na fazenda.

“É a mesma coisa se você tivesse um carro e tivesse mais um tanque pra abastecer. É mais um fator pra estar controlando”, ressalta o executivo. No Brasil, os motores SCR, que dependem do ARLA, são adotados principalmente por empresas multinacionais, que importam as peças de suas matrizes para montagem dos equipamentos em território nacional.

Multinacionais visam desenvolvimento sustentável para o setor 

Para embaixador da Fendt na América do Sul, Felix Glas, benefícios ambientais devem ser acompanhados de maior eficiência e economia de recursos para gerar adesão dos produtores (Foto: Rogério Albuquerque/Ed. Globo)

É o caso da Fendt, marca que chegou ao Brasil em 2019 e que usa motores a base de ARLA em suas colheitadeiras vendidas no país. “Na Europa nós já temos uma regra bem mais rígida, com motores com emissões equivalentes a 1% dos motores usados no Brasil, e trouxemos essas tecnologias para o país também para contribuir na tarefa que temos de criar para o futuro uma agricultura mais sustentável”, afirma o embaixador da Fendt na América do Sul, Felix Glas.

Natural da Alemanha, o executivo recorda que a empresa foi a primeira a ter autorização para ligar uma colheitadeira em ambiente fechado durante uma feira agropecuária em seu país. Por outro lado, ele reconhece o desafio de convencer o produtor de que o ARLA não representa, necessariamente, um custo a mais. “Nós não olhamos esse assunto [redução de emissões] isoladamente. Esse é um ponto que trazemos também, com certeza, mas é sempre dentro de um pacote de eficiência. Porque se você fala sobre esse lado, você diminui a atratividade. Agora, se você fala para o cliente que vai haver contribuição ao ambiente, mas também economia de dinheiro, você faz os olhos dele brilharem”, observa o executivo.

Já o diretor comercial da Fendt no Brasil, José Galli, revela que o maior desafio da empresa tem sido as questões legal e de infraestrutura, já que os padrões técnicos adotados seguem a legislação europeia – mais rígida quanto à emissão de poluentes do que o Brasil. “O maior impacto que a gente enfrenta é porque a legislação brasileira ainda não está nesse nível. Então os procedimentos dos agricultores e a estrutura da fazenda muitas vezes precisam ser alterados”, explica Galli ao citar, por exemplo, os cuidados ao adicionar o ARLA ao tanque. “É preciso ter muito cuidado para impurezas não caírem dentro do tanque, porque isso pode afetar a performance da máquina”, alerta.

Porém, com uma cobrança cada vez maior da sociedade em relação à sustentabilidade do agronegócio, ele ressalta que esses desafios são transitórios e poderão ser resolvidos com  treinamento e capacitação dos produtores. “O nosso papel aqui é suportar o agricultor, mas a sociedade está dizendo o que ela quer. Então a gente tem trazido isso, mesmo que a legislação brasileira não peça esse nível de controle de emissões, porque entendemos que o caminho é esse e que é o caminho correto”, conclui Galli.

Comentário adicional

Apenas um breve adendo à matéria: É importante ressaltar que a busca pela redução das emissões nas máquinas agrícolas não é uma imposição trazida pelos fabricantes europeus. A Resolução CONAMA 433/2011 estabeleceu uma redução gradativa e significativas das emissões dos motores das máquinas agrícolas e de construção (rodoviária) novas, nacionais e importadas. É uma legislação similar à norte americana Tier 3 ou à europeia Stage IIIA. Para serem atendidos, os novos limites de emissões exigem, além de modificações nos motores, a utilização de diesel com teor de enxofre reduzido.

Fonte: Globo Rural
Revisão e comentário adicional: Faustino Júnior

Faustino Júnior – LinkedIn: faustinojunior | Instagram: @admfaustinojunior
Administrador de Empresas, Consultor Sênior na Merkato, Auditor Líder ISO 9001/22000, Especialista em ARLA 32, desenvolve projetos e treinamentos sobre ARLA 32 para empresas em todo o Brasil.

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